Sem Trigo, Sem Barriga
Livro de Reclamações das Crianças
EDUARDO SÁ
Às vezes, os meus pais zangam-se comigo sem razão.
E eu zango-me com eles com razão.” >Pedro, 5 anos
O Pedro tem certamente razão. Mas, quem sabe, talvez os pais dele também tenham. Bom mesmo era que conversassem e que se ouvissem. E que às reclamações de uns e outros fosse sempre dada a devida atenção. Porque, se virmos bem, entre as crianças e os adultos cavam-se de vez em quando fossos, onde deveria haver apenas pontes. É aqui que entra o Livro de Reclamações das Crianças, onde elas, de viva voz, dizem de sua justiça. Não são meigas, acertam sempre em cheio, e às vezes até magoam um pouco. Para responder às angústias do Pedro, e de tantas outras crianças, surgiu este livro. A pensar nos mais pequenos, mas sobretudo nos adultos: “Só queremos que perceba que cada uma destas crianças podia ser a sua. E que, por delicadeza, por medo, ou por bondade, talvez a sua diga com os olhos aquilo que outras crianças foram capazes de nos dizer, a conversar.” Vamos então ouvi-las. E dar-lhes espaço para se manifestarem. Mas de coração aberto, com a ternura à espreita, porque mesmo quando elas reclamam pelas guloseimas, não é de guloseimas que estão a falar. Exercitam antes o seu direito filosófico de nos questionar, na nossa autoridade de “grandes” que se esqueceram do que é ser criança.