"Se ficou triste,não faça de conta que nada se passa. Desabafe a dois, numa espécie de conclave de pais. Fúria guardada é que não pode ser!" Eduardo sá
Carlos Bleck
JOSÉ GUEDES
Carlos Bleck
JOSÉ GUEDES
No dia 5 de Março de 1934, aterrava em Goa, vindo de Lisboa, o mais aguardado dos visitantes. Carlos Bleck, a bordo de um pequeno monomotor, fazia-se à pista, depois de mais de 50 horas a voar. Foi recebido por uma multidão eufórica: pela primeira vez na história um aviador concluía a travessia entre Portugal e a Índia, um extraordinário feito aeronáutico. Descendente de uma família judaica da Polónia, que a diáspora fixou em Portugal, o piloto crescera com a febre da velocidade.
Foi corredor de automóveis e velejador olímpico, antes de abraçar a sua maior paixão: voar. Bleck, o primeiro português a ter um brevet de piloto civil, distinguiu-se também como empresário, fundando uma companhia de aviação, a CTA, que antecedeu a TAP. O que o imortalizou, porém, foram as viagens aéreas.
Para além da viagem à Índia, fez a primeira ligação aérea Lisboa / Angola / Lisboa. Atravessou mares e desertos, enfrentou tempestades de areia, trovoadas tropicais, fogo inimigo.
A História, no entanto, acabou por o ignorar. Ainda durante o Estado Novo, protagonizou um acidente aparatoso, a bordo de um avião chamado Salazar, que ditou o fim dos seus voos pioneiros.
O Portugal pós-25 de Abril não lhe perdoou ter sido membro da Legião Portuguesa e fervoroso defensor do regime anterior. Permaneceu uma nota de rodapé na história da aviação portuguesa. Até ao dia em que o comandante José Correia Guedes (autor de O Aviador) decidiu resgatá-lo do esquecimento.