"Se ficou triste,não faça de conta que nada se passa. Desabafe a dois, numa espécie de conclave de pais. Fúria guardada é que não pode ser!" Eduardo sá
Quinze Cães
ANDRÉ ALEXIS
Quinze Cães
ANDRÉ ALEXIS
Como seria , questionou Hermes, se os animais tivessem inteligência humana? Aposto um ano de servidão, disse Apolo, em como os animais seriam ainda mais infelizes do que os humanos.
Começa assim, com uma aposta entre dois deuses gregos, este desconcertante romance. Hermes e Apolo saem do bar, onde conversavam sobre os mortais, passam por uma clínica veterinária e dotam quinze cães de consciência e linguagem humana. Depois resta-lhes observar, a partir do Olimpo, o desenrolar do drama.
Subitamente capazes de pensamentos complexos, os cães começam a dividir-se. Alguns abraçam a novidade, como o genial Prince, que descobre em si dotes de poeta. Outros, como o temível mastim napolitano que rapidamente assume a liderança, defendem que tudo permaneça igual e que resistam à humanização.
Mas é tarde demais, a consciência já foi semeada. E os cães lutam consigo próprios e com a linguagem estranha que agora possuem – será possível continuar a latir, quando sabem que estão a produzir sons sem significado? Não será humilhante fazerem truques de circo em troca de biscoitos? Os deuses observam deleitados a desintegração do grupo e os destinos de cada um, do estóico mastim, ao filosófico Majnoun, que manterá uma bizarra relação com um casal de humanos.
Obra a todos os níveis original, Quinze Cães ilumina a beleza e os perigos da consciência, e de tudo o que nos torna humanos. Tocante por vezes, reflexiva quase sempre, recupera as tragédias gregas e transporta-as para um mundo absolutamente novo.